Nascida em 29 de janeiro de 1499, perto de Leipzig, filha de Hans von Bora e Anna von Haugwitz, Catarina era uma menina do campo, com três irmãos e talvez uma irmã. Não há certeza sobre onde nasceu Catarina, mas é provável que tenha sido em Zülsdorf, junto a Lippendorf, povoado ao sul da cidade de Leipzig. Era uma família de nobres empobrecidos que tiveram que vender suas propriedades pouco após o nascimento de Catarina
Catarina de Bora tinha apenas cinco anos de idade quando foi deixada por seu pai na escola do convento beneditino na cidade de Brehna, na Alemanha em 1504. Seu pai provavelmente achou que no convento ela pelo menos receberia uma boa educação. Mesmo não tendo planejado para si o estilo de vida de uma freira, Catarina passou a se submeter à rigorosa rotina vivida diariamente nos conventos. O convento de Brehna foi, possivelmente, escolhido porque ficava nas imediações de Bitterfild, onde viviam parentes da família.
Então, como muitas outras jovens filhas de menor nobreza de sua época, Catarina foi colocada em um convento. No caso dela, a decisão se relacionava às circunstâncias familiares. Sua mãe havia falecido e, logo depois, seu pai se preparou para casar com uma viúva que também tinha filhos. Em 1504, ela chegou em Brehna para começar sua educação no convento beneditino. Ela aprendeu latim numa época em que as mulheres não conseguiam ler nem mesmo a própria língua natal. Também aprendeu a cozinhar, costurar, a cuidar de jardins e como utilizar ervas e chás. De fato, essa era uma prática comum entre a nobreza menor e sem dinheiro na Alemanha do século XVI. Para o recém-viúvo Hans von Bora, significava uma criança a menos ocupando espaço em uma casa pequena, uma boca a menos para alimentar e, no futuro, um dote a menos para pagar. E também a eliminaria de qualquer direito à herança. Em 1508, a família da Catarina a enviou para outro mosteiro, em Nimbschen, chamado Marienthron. Mais uma vez, o fator financeiro parece ter sido o decisivo. Enquanto em Brehna exigia-se uma contribuição fixa anual, em Nimbschen, a contribuição era espontânea - o pai de Catarina pagou 30 Gulden, moeda da época na Alemanha, uma quantidade pequena.
Martinho diz a respeito: É muito vergonhoso que crianças, particularmente mulheres indefesas e jovens meninas, sejam empurradas para os conventos. Tenho vergonha dos pais implacáveis que tratam seus filhos com tanta crueldade.
Em 1514, Catarina tornou-se noviça e, em 8 de outubro de 1515, freira. No século XVI, não havia estatísticas ou comparativos de longevidade, sabemos que a vida para as mulheres no convento era muito mais saudável do que no mundo exterior. Em média, uma madre superiora vivia muito além dos cinquenta anos, enquanto a longevidade para a maioria das mulheres fora do convento era de menos de trinta anos. Esperava-se que as freiras fizessem trabalhos manuais e cuidassem dos jardins, mas muito do seu tempo era dedicado às horas de meditação, oração, leitura, e ao coral — luxo que poucas mulheres com família poderiam ter. As freiras enclausuradas tinham menos probabilidade de morrer de doenças contagiosas, muito comuns na época e, para muitas delas, o padrão era a dieta vegetariana.
Mas quando Catarina tinha seus vinte e poucos anos, os ensinos de um homem chamado Martinho Lutero começaram a penetrar pelas paredes do convento. Lutero era um ex-monge que havia deixado o monastério quando entendeu mediante sua pessoal interpretação da Palavra de Deus, que os homens seriam salvos pela graça por meio da fé, não tendo a salvação relação alguma com as obras. Catarina estudou os escritos de Lutero, assim como outras reclusas que decidiram seguir o reformador. Elas negaram a vida de celibato e reclusão e escreveram a Lutero pedindo ajuda.Às vésperas da Páscoa de 1523, Catarina e outras onze irmãs escaparam do convento.
Quando Catarina fugiu do convento, estava, em alguns aspectos, preparada para o mundo exterior, tendo aprendido como se virar com pouco e dominando um amplo leque de habilidades. Por um tempo, ela morou na casa do abastado escrivão de Wittenberg. Aqui, sabe-se pouco dela, além de um romance com Jerônimo Baumgärtner, que havia estudado na Universidade de Wittenberg, aos pés de Filipe Melâncton e de Martinho Lutero. Entretanto, quando os Baumgärtner souberam dos planos, ficaram realmente preocupados com a escolha de seu filho — uma freira fugitiva sem posses ou mesmo sem dinheiro suficiente para se manter? Mesmo naquela idade, a aprovação dos pais era um pré-requisito, sem nenhuma justificativa ou carta, Jeronimo sumiu de sua vida. Catarina deixou a casa da família em que vivia e se mudou para outra a pouca distância da cidade de Wittenberg… Acolhida na casa de Cranach, Catarina tinha muito trabalho a fazer, e mergulhou rapidamente no cuidado da casa e das crianças. Naquela época, as cinco crianças tinham entre três e doze anos. Embora pouco se saiba sobre Catarina entre os anos de 1523, quando ela fugiu do convento, e 1525, quando se casou com Lutero, aqueles anos, no entanto, não foram de maneira alguma vazios. Há biógrafos sérios que afirmam que Catarina tinha uma aparência comum, era orgulhosa e de difícil convivência….
Com a ajuda de outros, incluindo seu colega Nicolau von Amsdorf, Lutero conseguiu encontrar maridos para as 9 freiras que desejavam se casar — todas, menos Catarina. Em sua cabeça, depois do fracasso de Jerônimo, qualquer bom cristão serviria. Só que Catarina não estava pronta para ser empurrada para os braços de um homem por quem não tinha sentimento algum, Catarina estava com vinte e poucos anos, e tinha deixado claro para Lutero que um homem muito mais velho, não lhe serviria. No entanto, considerava Nicolau von Amsdorf um esposo adequado e sugeriu seu nome, acrescentando que, se ele não estivesse disposto a dar esse passo, ela estaria disposta a considerar o próprio Martinho Lutero (dezesseis anos mais velho que ela). Se ninguém antes tinha reconhecido a verdadeira coragem dessa ex-freira, tudo ficaria bem óbvio quando ela mesma propôs casamento, não para um, mas para dois homens, ambos figuras renomadas da época. Era um movimento ousado, e funcionou! De qualquer forma, era espirituosa, enérgica, competente e um bom partido, mas suas opções eram reduzidas: Amsdorf ou Lutero. No final, foi Lutero que apareceu na casa de Cranach para providenciar que ela fosse sua esposa e para fazer isso assim que possível.
Os sinos de casamento, que sinalizavam o início da cerimônia pública, tocaram às 10 horas do dia 27 de junho. Martinho e Catarina andaram até a igreja com a família e amigos, e muitos viajaram de fora da cidade.
Embora possa ter se casado com Catarina por pena, Lutero foi desafiado a se casar por outros motivos, como ele confessou de maneira divertida: para “agradar seu pai, irritar o papa, fazer os anjos rirem e os demônios chorarem, e selar seu testemunho.” E ele foi muito encorajado por amigos também, incluindo sua ardente defensora Argula von Grumbach, que estava convencida de que seu casamento acabaria com os rumores escandalosos.
Catarina entrou no casamento, assim como Martinho, sem o coração batendo de paixão. Ela acreditava que ele seria um marido decente, mesmo que entre eles não houvesse um romance abrasador.
Foram anos difíceis de contratempos e de dificuldades financeiras. De fato, antes deles terem celebrado seu quarto aniversário de casamento, Catarina tinha dado à luz três vezes e lamentado gravemente a morte da sua segunda filha, Elizabeth, aos oito meses. Na prática, a visão de Lutero sobre o casamento era de mutualidade. Nunca pareceu ter nem mesmo tentado domar sua esposa; no entanto, ele certamente reconhecia personalidade e diferenças psicológicas. Uma razão pela qual Martinho pode ser visto como um marido modelo para Catarina é que ele a servia. O reformador gostava de brincar com as provações dos casamentos, e imaginava que tudo começou com Adão e Eva, que brigaram por aproximadamente novecentos anos a respeito de quem foi o culpado por eles terem comido o fruto proibido.
A vida cotidiana de Martinho Lutero ilustra sua teologia: A fé de Lutero era simples o suficiente para crer que depois de um dia consciente de trabalho, um pai cristão poderia voltar para casa e comer sua linguiça, beber sua cerveja, tocar sua flauta, cantar com seus filhos e fazer amor com sua esposa — tudo para a glória de Deus!
Além de cuidar das suas necessidades físicas e emocionais da família, Catarina proporcionava muita estabilidade para sua casa. Seu bom humor e hospitalidade faziam maravilhas ao esposo, assim como às crianças e à rotina da vida familiar.(Conta-se que, Lutero, certa vez, estava profundamente irritado pela maldade desse mundo e pelos perigos que cercavam a Igreja. Em uma manhã, viu sua esposa vestida de luto. Surpreso, ele perguntou a ela quem tinha morrido. “Você não sabe?”, ela respondeu. “O Deus dos céus está morto”. “Como você pode dizer tamanho absurdo, Catarina?” Lutero replicou: “Como pode Deus morrer? Ele é imortal, e viverá por toda a eternidade”. “Isso é realmente verdade?”, perguntou ela. “Com certeza”, ele disse, ainda não percebendo qual era o objetivo dela. “Como você pode duvidar? Tão certo como existe um Deus nos céus, também é que ele jamais pode morrer”. “E ainda”, disse ela, “embora você não duvide disso, está sem esperança e desanimado”. A pequena estratégia de sua esposa atingiu o efeito desejado de restaurar a certeza e confiança de Lutero em Deus). Eles aproveitavam os entretenimentos comuns da juventude: jogos de cartas, xadrez, recreação com bola ao ar livre, danças e teatros. Ele aprovava as atividades que envolviam interação entre meninos e meninas, aquelas que iriam lhes preparar para a vida adulta. O namoro, no entanto, era severamente restringido. Ele acreditava que um companheiro deve ser aprovado pelos seus pais — sem namoro e casamento sigiloso. A leitura era outra atividade que ele, vigorosamente, apoiava. A família era o centro da reforma de Lutero. Outros reformadores vieram, mas nenhum deles enfatizou o assunto do casamento e da família. De fato, nenhum reformador anterior havia levantado a questão da família como ponto focal da criação e das Escrituras. Ele manteve-se como o gigante dos valores familiares. Catarina claramente está ao seu lado neste respeito — acrescentando carne e sangue à sua teologia. Sem ela, os ensinos de Martinho sobre casamento e família seriam não muito mais do que um esqueleto. E nenhuma outra mulher poderia ter moldado tão profundamente a mente e os hábitos diários dele. Como pai dedicado, temos uma carta escrita a seu filho Hans, numa de suas viagens: Graça e paz em Cristo, meu querido e pequeno filho. Ouço com grande prazer que você está aprendendo suas lições muito bem, e orando, com tanta fidelidade. Continue a assim fazê-lo, meu filho, sem cessar. Quando voltar para casa, levarei para você um bom presente da feira. Conheço um belo pomar, onde existem muitas crianças ótimas, que usam casaquinhos finos, e elas vão debaixo das árvores e ajuntam belas maçãs e peras, cerejas e ameixas; elas cantam e correm ao redor e são tão felizes quanto possível. Algumas vezes, cavalgam em pequenos pôneis, com freios de ouro e selas de prata. Perguntei ao homem que é dono desse jardim: “Quem são estas criancinhas?” E ele me disse: “São criancinhas que amam orar e aprender e são boas”. Quando eu disse: “Meu querido senhor, tenho um menininho em casa, seu nome é Hans Lutero, você o deixaria entrar nesse pomar, para também comer algumas dessas boas maçãs e peras, cavalgar nesses pequenos pôneis e brincar com essas crianças?” O homem disse: “Se ele ama orar e aprender suas lições e é um bom menino, ele pode vir”
Lutero é representado como um típico marido alemão e pai, que volta para a casa para o jantar depois de um dia de trabalho. Porém, Lutero também costumava representar, com frequência, uma típica (dona de casa) alemã. Qualquer mulher hoje poderia desejar que seu marido tivesse a perspectiva moderna sobre a paternidade de Lutero, ele não apenas dividia com Catarina os afazeres domésticos e o cuidado com as crianças, mas também agia de modo diferente do seu normal para oferecer pequenos gestos de consideração, e ela, em troca, fazia o mesmo por ele. Em uma ocasião, quando ela expressou seu desejo ardente por laranjas, ele encomendou-as de Nuremberg, sabendo que elas não estavam disponíveis em Wittenberg. E por que não? “Por que não deveria estar alegre em fazer sua vontade, pois não lhe era ela mais valiosa que o rei da França ou de Veneza?” Quantos marido hoje em dia tem tamanha visão? O grande coração de Lutero certamente não era limitado ao amor por sua família. Era generoso também com amigos e estranhos, e particularmente preocupado com as pessoas das camadas mais pobres da sociedade. Não podemos fazer uma avaliação de Catarina, como mãe, sem considerar o papel de Martinho como pai, pouco ficou registrado acerca da filosofia e da prática de Catarina no que tange à criação dos filhos, embora Catarina seja lembrada hoje fundamentalmente como esposa, suas responsabilidades como mãe dessa grande prole eram verdadeiramente impressionantes, sabemos que ela era super atarefada como mãe, como também é o caso de Martinho como pai, a diferença é que ele é prolífico nas suas palavras. Relata-se que ele disse, em certa ocasião: “Filho, o que você fez para que eu o amasse tanto assim? Seria a bagunça que faz pelos cantos ou a gritaria pela casa toda?” A compreensão de Catarina como mãe vem, fundamentalmente, por dedução, isto é, até que ela se tornasse viúva. Só então passamos a ouvir, de forma distinta, sua voz e passamos a ter uma sensação de certeza de que ela, mesmo não registrada, sempre falou com um profundo e primordial amor.
A hora das refeições era um evento importante para os alemães do século XVI, e uma caçarola de carne — ou carne assada — era a entrada preferida. Em Wittenberg e em qualquer lugar dentre as densas florestas da Europa, a caça selvagem e as aves estavam facilmente disponíveis. O peixe era uma alternativa nutritiva, e é claro, pão e vegetais frescos de uma horta bem cuidada faziam um forte e completo jantar. Leite e cerveja eram bebidas comuns, e uma boa refeição poderia ser completada com pão de especiaria ou pães de mel.
Para a maioria das mulheres naquela época, havia pouco tempo para relaxar. Podemos nos alegrar ao pensar em Catarina sentada em uma poltrona, debruçada sobre livros ou artigos do marido, e ativamente envolvida na publicação e promoção dos seus escritos, mas isso seria pouco provável. Dentre os dois, era ela quem tinha perspicácia para os negócios. Com seis filhos biológicos e vários órfãos, a maternidade, como já vimos, acabou-se tornando um emprego de tempo integral. Acrescente-se a isso os parentes adultos, estudantes (na verdade, houve momentos em que até trinta estudantes estavam morando no Mosteiro Negro), e estranhos, e chegamos à conclusão de que ela quase não deve ter tido tempo para nada mais. Lutero era homem de idade avançada quando Catarina se casou com ele, e a responsabilidade de prover o futuro dos filhos acabaria recaindo sobre ela. A referência que Martinho fez a ela como “estrela da manhã de Wittenberg” era apropriada. Ela se levantava antes do nascer do sol para trabalhar e, normalmente, prosseguia trabalhando até o anoitecer. Talvez a melhor maneira de se descrever a incrível complexidade do seu trabalho seja comparando ao administrador geral de uma fazenda, horta e albergue, e ainda um pronto-socorro, mantinha uma farmácia caseira com medicamentos que ela mesma preparava. Ela não fazia da plantação um passatempo. A sua horta supria a família e os residentes com uma variedade de legumes e verduras, dentre os quais estavam os pepinos, melões, alfaces, repolhos, feijões, várias ervas e muito mais. Ela também era responsável pelos campos de cereais necessários para o trato dos animais, bem como pelos campos de trigo e cevada, itens críticos na produção de cerveja, na qual Martinho orgulhava-se em dizer que a melhor cerveja estava em sua casa (a arte cervejeira de Catarina tem chamado a atenção de muitos cervejeiros artesanais dos tempos atuais. E os cervejeiros alemães são particularmente orgulhosos de a terem como parte da sua herança e incluem este fato nos seus anúncios de cervejas leves: “Quem acreditaria que as cervejas leves têm 450 anos de história?”, diz o comercial da Würzburger Hofbräu. “A cerveja produzida por Catarina von Bora [uma talentosa cervejeira muito preocupada com a saúde] era bem leve, com menos de dois por cento [...]. A redução do conteúdo de álcool significa [...] fácil digestão, 40% a menos de álcool sabor da Pilsner pura), e era gênero de primeira necessidade nas refeições. Além de hortas, parreira, pomar (com maçãs, pêssegos, figos e amêndoas) e de campos, o complexo incluía um estábulo e pastos. Catarina criava galinhas, patos, cabras, cavalos, porcos e abelhas de mel, além de supervisionar um lago de peixes (no qual havia percas, lúcios, trutas e carpas). Ela estava envolvida em todos os aspectos do trabalho — até mesmo no abate do gado. Obtemos estas informações a partir de várias fontes, inclusive cartas do seu marido.Alguns escritores afirmam que Catarina era conhecida pelo dom da hospitalidade (enquanto era anfitriã de grandes reuniões, em meio a todo o restante do seu trabalho, Catarina arrumava tempo para aconselhamento informal. Ela não era terapeuta — tampouco uma autonomeada coaching de vida —, mas aconselhava hóspedes que precisavam de ajuda), e generosidade, provavelmente, mais apreciada por pessoas que tinham adquirido alguma enfermidade. Ela era uma “mestra de ervas, unguentos e massagens”, melhor do que muitos dos médicos da época. Lutero, segundo alguns relatos, era o paciente mais adoentado da Reforma, e ela era sua primeira cuidadora. A exemplo da mulher virtuosa de Provérbios 31, Catarina abria os braços para os pobres e enfermos — e não somente a freiras fugitivas. Ela era uma pessoa com quem se poderia contar em momentos de necessidade, mas jamais perdeu sua prioridade número um na vida: o marido. Não havia competição entre Catarina e ele. Ela o apoiava com sinceridade, sabendo que os estudantes certamente não se reuniam ali para ouvir as “conversas de mesa” dela. O seu marido era a atração, Catarina conhecia seu lugar. Ela era esposa, mãe e provedora do pão. Apesar de todas as vanglórias de Lutero em assuntos das mulheres em posição de autoridade na vida civil e na Igreja, e por toda sua linguagem pejorativa e deboches, quando ele precisava de alguém em quem pudesse confiar e que tivesse um juízo saudável, ele quebrava suas próprias regras e recorria a Catarina. Tanto Martinho quanto Catarina devem receber crédito por esse relacionamento incrível. Ela, porque era, verdadeiramente confiante, segura e equilibrada e tinha provado ser uma mulher completamente igual a Martinho. Quando Martinho faleceu no dia 18 de fevereiro de 1546, o casal tinha quatro filhos vivos. Hans, com dezenove anos, longe de ser independente. Martinho, quatorze anos; Paulo acabara de completar treze anos e Margarete, que ainda não tinha nem onze anos. Como seria bom se ele tivesse mesmo retornado e ela pudesse ter se despedido dele pessoalmente. Que lhe permitisse, ao menos, estar junto a ele no seu leito de morte. Verdadeiramente, sua morte chegou com tal ímpeto que ela deve ter ficado perplexa. Ela precisava tão desesperadamente de consolo, e não havia ninguém mais que poderiam acalmá-la da forma como aquele bárbaro alemão, com quem ela vivera por vinte anos, poderia fazer. O casamento deles era sólido; nunca tiveram um romance avassalador, porém a parceria de afeto profundo e permanente os levou por meio de alegrias, tristezas e agruras. A idade que ela tinha quando ficou viúva era quarenta e sete anos.
"Em seu testamento, Lutero indicou Catarina como sua herdeira universal. Isso, no entanto, não era permitido pela lei, pois sempre teria de haver um homem responsável pela viúva. O reformador, porém, não registrou o testamento em cartório. Quando da morte de Lutero, Catarina teve de lutar pela herança, conseguindo o reconhecimento só após a indicação de tutores para a família. Os tutores, porém, queriam levar os filhos do casal para suas casas, e mais uma vez Catarina teve que lutar para ficar com eles, no que teve sucesso”. Os anos de viuvez de Catarina são difíceis de decifrar. Catarina quis manter o pensionato e a criação dos filhos, mas a situação era difícil por não ter mais o ordenado de Lutero. Ela precisou escrever cartas pedindo auxílio a conhecidos, o que a deixou humilhada. Depois do surgimento da guerra em 1546, ela fugiu para Magdemburg, onde desfez-se de suas joias e cálices de prata para se sustentar. Estava praticamente sem recursos quando o rei da Dinamarca Christian III lhe enviou recursos, possibilitando que ela voltasse a Wittemberg. No verão de 1552, apareceu a peste em Wittemberg e Catarina fugiu, em setembro daquele ano, para Torgau. No caminho, teve que pular da carroça porque os cavalos saíram do caminho e entraram em disparada. Ela, aparentemente, teria sido lançada para fora, ou pulou da carruagem num esforço para controlar os cavalos e, no processo, sofreu uma queda grave, caindo em uma poça d'água indo parar em uma vala e se machucando muito - chegando doente e paralítica na cidade. Seu estado de saúde foi piorando, e ela morreu cerca de três meses depois, no dia 20 de dezembro de 1552, com apenas cinquenta e três anos de idade. Alguns historiadores dizem que, os últimos sete anos de Catarina foram marcados por desastres e discriminação.
Quanto a sua espiritualidade era rodeada de trabalho árduo, normalmente nos campos. Ela teria que prender a saia de lã grosseira mais alta e ainda teria que remover os incômodos carrapichos. Por isso, sua vida é lembrada, tal como o provérbio: “Como este mundo de trabalho diário é cheio de espinhos [ou carrapichos]! “Eu me apego a Jesus como um carrapicho em um vestido [como um carrapicho em uma capa; como um carrapicho em um hábito”, suas últimas palavras no leito de morte.
Poderia aqui dar uma floreada em sua vida, dizendo: Era uma vez… uma freira fugitiva, desgraçada e empobrecida, chegando a Wittenberg em 1523, conhecida pelas boas obras e devoção, levantando-se veementemente pela fé evangélica, liderando reuniões de oração para mulheres e grupos de estudo bíblico para mulheres, adquirindo reputação pela sua devoção, cuidando de bebês que cresceriam para seguir os passos do seu pai, casada com um reformador ilustre, totalmente apaixonado por ela… seria uma biografia plena. Só que, infelizmente, essa não seria Catarina von Bora.
Por, Miriam Ometto
Retrato de Catarina de Bora, por Lucas Cranach o Velho (1526) |
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Nascimento |
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Morte |
20 de dezembro de 1552 (53 anos) Torgau, Saxônia, Sacro Império Romano-Germânico |
Cônjuge |
Martinho Lutero (1525-1546) |
Filho(a)(s) |
Johannes (Hans) (1526–75) Elizabeth (1527–28) Magdalena (1529–42) Martin Jr. (1531–1565) Paul (1533–93) Margarete (1534–70) |
Os registros mostram que ela deu à luz seis bebês nos anos de 1526, 1527, 1529, 1531, 1533 e 1534 (três meninos e três meninas, embora somente uma das suas filhas tivesse ultrapassado os dez anos
Baseado nos arquivos Luteranos/ Wikipédia/citado em
Katharina Von Bora: uma biografia. São Leopoldo/ Bibliografia de Martinho Lutero/Citado em Punch, or the London Charivari, vol. 30 (Londres: Bradbury and Agnew, 1856), p. 99./Vide Karant-Nunn e Wiesner-Hanks, Luther on Women, 9./ RUTH A. TUCKER historiadora americana, e autora de vários livros. RudolfK. Markwald e Marilynn Morris Markwald, Katharina von Bora: A Reformation Life (St. Louis, MO: Concordia, 2002
Katharina Von Bora: uma biografia. São Leopoldo/ Bibliografia de Martinho Lutero/Citado em Punch, or the London Charivari, vol. 30 (Londres: Bradbury and Agnew, 1856), p. 99./Vide Karant-Nunn e Wiesner-Hanks, Luther on Women, 9./ RUTH A. TUCKER historiadora americana, e autora de vários livros.