A vida do apóstolo Paulo, toda a sua conduta, confirmava o testemunho que ele levava; fazia parte dele. Consequentemente (e é o que sempre acontece), o fruto do seu trabalho trazia a marca daquele que trabalhava: o cristianismo dos tessalonicenses lembrava o de Paulo. O andar de Paulo assemelhava-se ao andar do próprio Senhor, a Quem Paulo seguia tão de perto. Era "em muita aflição", pois o inimigo não podia suportar um testemunho tão claro, e Deus garantia Sua graça para um testemunho assim, e "com gozo no Espírito Santo".
Feliz testemunho esse do poder do Espírito operando no coração! Quando isto acontece, tudo torna-se um testemunho para os outros. Eles veem que nos cristãos há um poder que eles não conhecem; que há motivos que eles não experimentaram; um gozo do qual podem escarnecer, mas que não possuem. Existe uma conduta que os abala, a qual eles admiram, apesar de não a seguirem. E há uma paciência que comprova a impotência do inimigo em lutar contra um poder que resiste a tudo, e que se regozija apesar de todos os seus esforços. O mundo pode muito bem ter perguntado: O que podemos fazer com esses que se deixam perseguir sem ficarem menos alegres, pelo contrário, que ficam mais alegres ainda, que têm motivos mais elevados que os nossos e que, se oprimidos, desfrutam em suas almas de perfeito gozo, apesar de toda a nossa oposição? O que podemos fazer com esses que não podem ser vencidos por tormentos, e que encontram nestes apenas uma oportunidade de dar um testemunho mais forte de Cristo, o que escapa ao nosso poder? Na paz, tudo na vida é um testemunho; quando na morte, e até na tortura, há maior testemunho ainda. Assim é o cristão onde o cristianismo existe em seu verdadeiro poder, em sua condição normal em conformidade com Deus - a Palavra (do evangelho) e a presença do Espírito reproduzida na vida, em um mundo alheio a Deus.
Assim era com os tessalonicenses; e o mundo, apesar de si mesmo, tornou-se uma testemunha adicional do poder do evangelho. Um exemplo para crentes em outros lugares, eles estavam sujeitos aos comentários e descrição do mundo, que não se cansava de discutir esse fenômeno, tão novo e estranho, de pessoas que abriram mão de tudo aquilo que governa o coração humano, de tudo a que o coração estava sujeito, e que adoravam só um Deus vivo e verdadeiro, do qual até a consciência dava testemunho. Os deuses dos pagãos eram deuses das paixões, não da consciência. E era isso que dava uma realidade viva, e vigor, à posição dos cristãos e à sua religião. Eles aguardavam pelo Filho de Deus vindo do céu.
Deveras felizes foram aqueles cristãos cujo andar e cuja existência, na sua totalidade, fizeram do próprio mundo uma testemunha da verdade; os quais foram tão claros em sua confissão, tão consistentes em suas vidas, que o apóstolo não precisou fazer referência àquilo que pregou, não precisou falar do modo como andou entre eles. O mundo já fazia isso, por eles e pelo apóstolo.
J. N. Darby