Um Vaso de Alabastro

Um vaso de Alabastro - C. H. Mackintosh

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"Ele serviu na obscuridade com seus olhos no seu Mestre. O sorriso do seu Senhor é o suficiente para ele."

Nestes dias altamente ocupados e de atividades sem descanso é indispensável ter em mente que Deus olha para tudo a partir de um único ponto de vista, avalia tudo por uma única regra, prova tudo por um único critério, e este critério que governa o Seu ponto de vista é Cristo. Ele valoriza as coisas pela proximidade de sua conexão com o Filho do Seu Amor, e nada mais. Tudo é feito para Cristo, e tudo que é feito por Ele é precioso para Deus. Tudo mais não tem valor. Muito serviço pode ser realizado e uma grande porção de louvor pode ser oferecida através de lábios humanos, mas quando Deus os analisa Ele busca somente uma coisa, e isto é a medida do quanto este serviço está conectado a Cristo. Sua grande pergunta será: Este serviço foi realizado em e para o Nome de Jesus? Se sim, ele foi aprovado e recompensado, caso contrário será rejeitado e queimado.

 

Não importa o que os homens possam pensar sobre um determinado trabalho. Eles podem ser elogiados sobejamente por algo que estejam fazendo; podem ostentar seus nomes nos jornais; podem fazer de seus nomes o assunto em seus círculos de amigos; podem ter um grande nome como pregador, mestre, escritor, filantrópico, reformador moral, mas se não puderem conectar seu trabalho com o nome de Jesus -- se este não for feito para Ele e para a Sua glória -- se não for fruto do constrangimento do amor de Cristo, será todo soprado fora como a palha do chão da debulha de verão, e cairá no esquecimento.

Um homem pode procurar um serviço modesto, humilde, silencioso, desconhecido e não noticiado. Seu nome pode nunca ser ouvido, seu trabalho nunca ser reconhecido, mas o que for feito terá sido feito simplesmente por amor a Cristo. Ele serviu na obscuridade tendo os seus olhos no seu Mestre. Para ele é suficiente o sorriso de seu Senhor. Em nenhum momento ele pensou receber a aprovação dos homens; ele nunca procurou atrair o sorriso dos homens ou evitar a sua censura. Ele terá procurado manter uma uniformidade em seu caminho, simplesmente olhando para Cristo a agindo para Ele. Seu serviço irá permanecer. Este será lembrado e recompensado, porém ele não faz o serviço pensando na lembrança e na recompensa, mas simplesmente por amor a Cristo. Este é o serviço correto, a moeda genuína que irá subsistir ao fogo do dia do Senhor.

É muito solene pensarmos nisso e também muito reconfortante. É solene para aqueles que em alguma medida servem aos olhos dos seus seguidores, mas reconfortante para todos aqueles que servem sob os olhos do seu Senhor. Esta é uma misericórdia indescritível ser liberto dessa servidão atual, do espírito de agradar a homens que prevalece em nossos dias e estar capacitado a andar diante do Senhor -- poder iniciar, executar e concluir nossos serviços Nele.

Vamos analisar a mais amável e tocante ilustração disto que nos apresentada na “casa do Simão o leproso” e registrada em Mateus 26:6. "E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, Aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa".

Imagine que nós perguntássemos a essa mulher, enquanto ela caminhava em direção à casa de Simão: Para que é isto? Será que é para ostentar a excelência do perfume deste unguento ou do material e formato do vaso de alabastro? Seria para obter o louvor dos homens pelo seu ato? Ou para conseguir fama por sua extraordinária devoção a Cristo em meio ao pequeno grupo de amigos pessoais do Salvador? Não, caro leitor, não é para nenhuma destas coisas. Como sabemos? Por causa do Deus altíssimo, o Criador de todas as coisas, que conhece os mais profundos segredos de todos os corações e que expõe a verdadeira motivação de cada ação, e Ele pesou a ação dela com a balança do santuário colocando o selo de Sua aprovação. Ele estava lá na pessoa de Jesus de Nazaré -- Ele o Deus do conhecimento por meio de quem todas as ações são pesadas. Ele encaminhou a ação da mulher como uma moeda genuína do reino. Ele não faria e nem poderia fazer isto se existisse alguma mistura, alguma falsa motivação ou qualquer pretensão oculta. Seu santo e penetrante olhar perscrutou as maiores profundezas da alma da mulher. Ele sabia, não somente o que ela havia feito, mas como e porquê havia feito aquilo, e declarou: “Ela praticou uma boa ação para comigo”.

Em suma, o próprio Cristo era o propósito imediato da alma daquela mulher, e foi isso que valorizou o seu ato e fez subir o cheiro do unguento como cheiro suave ao trono de Deus. De modo nenhum ela sabia ou pensava que milhões leriam o registro de sua profunda devoção pessoal. De modo nenhum ela imaginou que seu ato seria gravado pela mão do Mestre nas páginas da eternidade, para nunca ser esquecido. Ela não pensou nisto. Nem tampouco procurou ou sonhou com tamanha notoriedade; se tivesse feito assim, teria roubado a beleza do seu ato e desprovido toda a fragrância de seu sacrifício. Mas o abençoado Senhor, para quem ela fez aquilo, cuidou para que não fosse esquecido. Ele não somente defendeu o seu ato naquele momento, mas o transmitiu para o futuro. Isto foi suficiente para o coração daquela mulher. Tendo a aprovação de seu Senhor, ela teve condições de suportar a “indignação” até dos “discípulos” e de ouvir que o que fez foi um “desperdício”. Foi suficiente para ela que o Seu coração tenha tido refrigério. Todo o resto não foi nada comparado àquilo que tem valor. Ela nunca se preocupou em obter o louvor do homem ou evitar o seu escárnio.  Do principio ao fim seu único e singular objetivo foi Cristo. Do momento em que ela pegou o vaso de alabastro, até quando o quebrou e derramou o seu conteúdo sobre a sagrada Pessoa do Senhor, ela pensou somente Nele. Ela teve uma percepção intuitiva do que poderia ser conveniente e agradável ao seu Senhor na solene circunstancia em que Ele se encontrava naquele momento, e foi com um tato apurado que ela fez aquilo. Ela nunca pensou no preço do unguento  ou, se o considerou, o fez sabendo que Ele valia dez mil vezes mais. Quanto “aos pobres”, eles possuem o seu próprio lugar e suas súplicas também, mas ela sentiu que Jesus significava mais para ela do que todos os pobres do mundo.

Em suma, o coração da mulher estava cheio de Cristo, e foi isto que caracterizou o seu ato. Outros poderiam dizer que era um “desperdício”, mas nós podemos descansar seguros sabendo que nada daquilo que é gasto para Cristo é um desperdício. Assim julgava aquela mulher, e ela estava com a razão. Esse era o maior serviço que um ser humano ou anjo poderia executar para honrá-lo naquele momento em que o mundo e o inferno se levantavam contra Ele. Ele estava para ser oferecido em sacrifício. As sombras se alongavam cada vez mais, as trevas se intensificavam, a escuridão crescia. A cruz com todos os seus horrores estava mais próxima; aquela mulher se antecipou a todos e ungiu o corpo de seu adorável Senhor.

Veja o resultado; veja como imediatamente o abençoado Senhor veio em sua defesa e a protegeu da indignação e do escárnio daqueles que pensavam saber mais do que ela. “Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: Por que afligis esta mulher? pois praticou uma boa ação para comigo. Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu sepultamento. Em verdade vos digo que, onde quer que este evangelho for pregado em todo o mundo, também será referido o que ela fez, para memória sua”.

Eis aqui uma gloriosa defesa, em cuja presença toda a indignação, escárnio e falta de entendimento do homem se dissipa como a neblina da manhã antes do calor do nascer do sol. “Por que afligis esta mulher? Pois ela praticou uma boa ação para comigo”. Isto encerra o assunto. Tudo deve ser pesado de acordo com sua conexão com Cristo. Um homem pode andar o mundo inteiro levando seus nobres atos de filantropia; pode espalhar com nobreza os frutos de seu grande coração benevolente; pode dar todos os seus bens para alimentar os pobres; pode ir às últimas consequências no tocante a religiosidade e moralidade e não fazer uma única coisa da qual Cristo possa dizer: “Este foi um bom serviço para Mim”.

Caro leitor, seja quem você for ou o quanto você esteja engajado, pondere nisso. Procure manter os seus olhos diretamente em Cristo em tudo o que você fizer. Faça de Jesus o objetivo imediato de cada pequeno ato, não importa o que seja. Procure servir de forma que Ele possa dizer, “Este foi um bom serviço para Mim”. Não esteja preocupado com os pensamentos dos homens sobre o que faz e a maneira de fazê-lo. Não se importe com sua indignação ou sua falta de entendimento, mas derrame o seu vaso de alabastro sobre a pessoa do seu Senhor. Certifique-se de que todos os seus atos sejam fruto da apreciação que o seu coração tem dEle. Então se assegure de que Ele irá apreciar o seu serviço e defenderá você diante de miríades de anjos.

Assim é a mulher sobre a qual estamos lendo. Ela pegou seu vaso de alabastro e fez o seu caminho até a casa de Simão o leproso com um único objetivo em seu coração, a saber, Jesus e o que Lhe aguardava. Ela estava preocupada com Ele. Ela não pensou em mais nada, a não ser em derramar seu precioso unguento sobre a Sua cabeça. E como resultado a sua boa ação chegou até nós através dos registros do Evangelho, conectada ao Seu santo Nome. Ninguém pode ler o Evangelho sem ler o memorial desta pessoa devotada. Impérios surgiram, floresceram e caíram no esquecimento. Monumentos foram erigidos para comemorar gênios, homens generosos e filantrópicos, e estes monumentos se tornaram um monte de pó, mas o ato desta mulher ainda vive e viverá para sempre. A mão do Mestre erigiu um monumento para ela, que nunca irá perecer. Que possamos ter suficiente graça para imitá-la; e nestes dias onde existe um grande esforço humano em favor da filantropia, que nosso servir, seja ele qual for, seja o fruto da apreciação de nossos corações a um distante, rejeitado e crucificado Senhor!

Não há nada que prove mais profundamente o coração do que a doutrina da cruz -- o caminho do rejeitado e crucificado Jesus de Nazaré. Ela prova o coração do homem no mais profundo do seu interior. Se for meramente uma questão religiosa, o homem pode ir muito longe, mas Cristo não é religiosidade. Nós não precisamos ir muito além das linhas reveladas no capítulo 26 do Evangelho de Mateus para ter uma notável prova disto. Olhe para o palácio do sumo sacerdote e o que você vê? Uma reunião especial das cabeças e líderes do povo. “Depois os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo reuniram-se no palácio do sumo sacerdote que se chamava Caifás”.

Aqui vemos a religião em uma forma muito imponente. Precisamos nos lembrar de que estes sacerdotes, escribas e anciãos haviam sido estabelecidos pelo povo professo de Deus como depositários dos ensinos sagrados, além de autoridade máxima em todos os assuntos relacionados à religião e como os assessores perante Deus no sistema que foi estabelecido por Deus nos dias de Moisés. Esta assembleia no palácio de Caifás não era composta por sacerdotes pagãos e profetas da Grécia e Roma, mas pelos líderes e guias professos da nação Judaica. O que eles estavam fazendo nesta reunião solene? Eles “consultaram-se mutuamente para prenderem Jesus com dolo e O matarem”.

Caro leitor, pondere nisso. Aqui nós temos homens religiosos, homens que são mestres, homens de peso e com grande influência entre o povo; e também estes homens odiavam a Jesus, e eles se reuniram em conselho para tramar a Sua morte -- para prendê-lo com dolo e o matarem. Ora, estes homens poderiam ter falado a você sobre Deus e a adoração a Ele, sobre Moisés e a lei, sobre o Sábado e todas as grandes ordenanças e solenidades da religião Judaica. Mas eles odiaram a Jesus. Lembre-se do fato mais solene. Homens podem ser muito religiosos; eles podem ser guias religiosos e mestres de outros, e ainda assim odiarem o Cristo de Deus. Esta é uma grande lição para se aprender no palácio de Caifás, o sumo sacerdote. Cristo não é religiosidade; ao contrário, os religiosos mais zelosos normalmente são tristes, e veementemente odeiam o Abençoado.

Mas alguém poderia argumentar: "Os tempos mudaram”. A religião está tão intimamente ligada ao Nome de Jesus, que para ser um homem religioso é necessário ser um servo de Jesus. Hoje você não encontraria mais ninguém que correspondesse ao que aconteceu no palácio de Caifás". Será verdade? Não podemos crer nisto nem por um momento. O Nome de Jesus é tão odiado hoje no meio dos cristãos como Ele foi odiado no palácio de Caifás. E aqueles que buscarem seguir a Jesus serão odiados da mesma forma. Não precisamos ir muito longe para provar isto. Jesus continua a ser rejeitado no mundo. Onde você irá ouvir o Seu Nome? Onde Ele é um tema bem vindo? Fale Dele onde você for, nas salas de visita dos ricos e elegantes, nos vagões dos trens, nos salões dos cruzeiros, nos cafés ou salões de jantar, em resumo, em qualquer lugar que os homens frequentam, e dirão a você, na maioria das vezes, que este assunto é inconveniente.

Você pode falar de qualquer outra coisa -- política, dinheiro, negócios, prazer, bobagens. Estas coisas sempre são bem vindas em qualquer lugar, mas nunca Jesus, em nenhum lugar. Vemos com frequência em nossa cidades as ruas serem interrompidas para a passagem de desfiles, festivais e shows, e eles nunca são molestados, reprovados e convidados a saírem dali. Mas deixe um homem nestes lugares falar de Jesus e ele será insultado ou será convidado a ir a outro lugar e não interferir no tráfego. Em linguagem clara, existe lugar para o diabo em qualquer lugar deste mundo, mas não existe lugar para o Cristo de Deus. O lema do mundo para Cristo é: “Oh! Nem sussurre Seu Nome”.

Mas, graças a Deus, se o que você à sua volta você ouve aquelas conversas do palácio do sumo sacerdote, também poderá encontrar aqui ou ali aquilo que corresponde à casa de Simão o leproso. Lá estão, louvado seja Deus, aqueles que amam a Jesus e o consideram digno de receber o vaso de alabastro. Lá estão aqueles que não se envergonham da Sua cruz -- aqueles que encontram Nele o seu objetivo mais cativante e que consideram sua principal alegria e maior honra o fato de poderem derramar e se derramarem para Ele em qualquer medida, por menor que seja. Não é para eles uma questão de serviço, um mecanismo religioso, de correr aqui e ali ou fazer isto ou aquilo. Não, é Cristo, é estar perto Dele e estar ocupado com Ele; é sentar-se aos Seus pés e derramar sobre Ele o precioso unguento de um coração sincero.

Caro leitor, esteja bem seguro de que este é o segredo do poder tanto do serviço quanto do testemunho. A correta apreciação do Cristo crucificado é uma fonte viva de tudo que é aceitável a Deus, tanto na vida e conduta individual do cristão, como em tudo o que ocorre nas assembleias  A genuína união com Cristo e dedicação a Ele devem nos caracterizar pessoal e coletivamente, caso contrário nossa vida e história serão de pouco valor no julgamento nos céus, independente do que elas sejam pelo julgamento na terra. Nós sabemos que nada pode conceder maior poder moral ao caminhar caráter  individuais do que uma intensa devoção à Pessoa de Cristo. De nada adiantará ser um homem de grande fé, um homem de oração, um estudante que toca profundamente na Palavra, um erudito, um pregador abençoado ou um poderoso escritor. Não, o que vale é ser um apaixonado por Cristo.

Assim também deve ser a assembleia. Qual é verdadeiro segredo do poder? É o dom, eloquência, a  música refinada ou um cerimonial imponente? Não, mas o gozo da presença de Cristo. Onde Ele está tudo é luz, vida e poder. Onde Ele não está tudo são trevas, morte e desolação. Uma assembleia onde Cristo não está é uma tumba, ainda que exista uma oratória fascinante, acompanhada de todos os atrativos da música refinada e toda a influência de um ritual imponente. Todas estas coisas podem ser perfeitas, e mesmo assim os devotos servos de Jesus irão clamar: “Ai de mim! Eles levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram.” Mas, em contrapartida, onde a presença de Jesus é percebida, onde Sua voz é ouvida e onde o Seu verdadeiro toque é sentido, ali há poder e benção, ainda que do ponto de vista humano, tudo possa parecer a mais completa fraqueza.

Que os cristãos se lembrem destas coisas, que ponderem sobre elas, que percebam que estão na presença do Senhor em suas assembleias, e se não puderem dizer com total confiança que o Senhor está ali, que se humilhem e esperem Nele, pois deve haver uma razão para isso. Ele disse, “onde estiverem dois ou três reunidos em Meu Nome ali estou Eu no meio deles” (Mt 18:20). Nunca nos esqueçamos de que, para obtermos o divino resultado, devemos atender as divinas condições.

C. H. Mackintosh